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Desigualdade na vacinação ameaça recuperação econômica global, diz FMI

Há 3 anos


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Disseminação da variante delta torna a previsão de crescimento mais incerta e desigual

O acesso limitado das economias em desenvolvimento às vacinas contra a Covid ameaça prejudicar a recuperação econômica global da pandemia, advertiu o FMI (Fundo Monetário Internacional), ao atualizar suas projeções para as economias avançadas, mas reduzindo-as para outras partes do mundo.

O fundo ainda espera um crescimento global de 6% neste ano —mesmo valor de sua última projeção, em abril—, segundo disse em seu último Panorama Econômico Mundial, na terça-feira (27). Mas ele advertiu que novas ondas de infecções por coronavírus desde então, incluindo a disseminação da variante delta, tornam a previsão mais incerta e desigual.

"O acesso às vacinas surgiu como a principal linha de falha ao longo da qual a recuperação global se divide em dois blocos", disse o FMI. Alguns países "podem antever uma maior normalização da atividade ainda neste ano", mas muitos outros "ainda enfrentam infecções ressurgentes e o aumento das mortes por Covid".

Mesmo os países no caminho da recuperação não devem ser complacentes sobre isso, advertiu o fundo. "A recuperação não é garantida nem em países onde hoje as infecções estão muito baixas, enquanto o vírus circular em outros lugares".

O FMI cortou 0,4 ponto percentual de sua previsão de crescimento para economias emergentes e em desenvolvimento neste ano, para 6,3%. A previsão mais sombria foi pior no Sudeste Asiático e na Ásia Meridional, especialmente na Índia.

Em contraste, o FMI aumentou sua previsão de crescimento da produção nas economias avançadas neste ano em 0,5 ponto percentual, para 5,6%, com aumentos notáveis nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Itália. França e Alemanha não tiveram mudanças, enquanto as expectativas de crescimento para Espanha e Japão foram reduzidas.

Ainda estamos em uma situação em que a pandemia está criando muita confusão no mundo todo", disse a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, ao Financial Times: "Embora estivesse claro que a variante delta está "rapidamente se tornando a variante dominante", o impacto econômico em países mais ricos é difícil de julgar, disse ela.

"Enquanto vemos os casos aumentarem... Se você olhar as hospitalizações e as mortes, verá um efeito muito mais contido. Precisamos ver se isso terá realmente um grande impacto nos padrões de consumo, em viagens, em efeitos de confiança e assim por diante. E não estamos vendo isso ainda", afirmou.

Um risco significativo que o FMI identificou são as pressões inflacionárias. Embora os principais bancos centrais do mundo esperem que o ritmo do aumento de preços atinja o pico mais tarde neste ano e depois recue, o fundo advertiu que a inflação poderá ser mais persistente do que havia previsto.

Existe um risco de que isso provoque uma normalização mais agressiva da política dos bancos centrais, o que atingiria as economias emergentes e em desenvolvimento de modo especialmente duro, disse o FMI.

"Um duplo golpe nas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, com o agravamento da dinâmica da pandemia e condições financeiras externas mais rígidas, prejudicaria seriamente sua recuperação e arrastaria o crescimento global abaixo dessa previsão básica", disse o FMI.

No entanto, Gopinath disse que "não está preocupada" sobre o risco de uma espiral inflacionária nos EUA, onde se espera que os planos de gastos do governo Biden abasteçam a recuperação econômica.

O FMI atualizou suas previsões de crescimento para a maior economia do mundo em 0,6 ponto percentual neste ano e 1,4 ponto no próximo ano, para 7% e 4,9%, respectivamente --supondo que os programas de infraestrutura e gastos sociais de Washington sejam aprovados no Congresso.

Os formuladores de políticas do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) se reunirão na quarta (28) para discutir uma possível redução do ritmo de suas compras de ativos mais tarde neste ano, quando começar a baixar o ritmo do apoio monetário à recuperação.

O indicador favorito de inflação do Fed —o índice central de Gastos de Consumo Pessoal (PCE na sigla em inglês)— deverá acelerar fortemente de seu nível atual de 3,4% para eventualmente alcançar 4%.

Mas quando as restrições transitórias de oferta e outros problemas relacionados à pandemia se atenuarem essas pressões desaparecerão, com o PCE central caindo para 2,5% no próximo ano, prevê o FMI.

"Tudo o que vimos até agora está de acordo com a previsão de que a inflação diminua no próximo ano", disse Gopinath.

As projeções do fundo para inflação e emprego sugerem que as taxas de juros nos EUA começarão a subir no final de 2022 ou início de 2023, disse Gopinath —mais rapidamente do que as autoridades do Fed haviam previsto.

Fonte: Folha de São Paulo

Foto: Divulgação Prefeitura de Jundiaí