‘Querem retirar direitos de quem está salvando o país’: público critica PEC 32 na audiência na Câmara
Ouvir texto
Parar
A deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-SP), sem máscara, preside a audiência na CCJ
Servidores também alertam na audiência pública na CCJ que deputados que votarem pelo desmonte dos serviços públicos será cobrado nas próximas eleições.
Sem acesso presencial à Câmara dos Deputados e sem abertura de espaço para intervenções de interessados, muita gente está expressando contrariedade com a ‘reforma’ administrativa por meio do chat de comentários da transmissão ao vivo da primeira audiência pública que trata da PEC 32/2020 na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, via a plataforma do YouTube.
“É inaceitável mesmo a simples discussão nesse momento quando todas as atenções deveriam estar voltadas a salvar vidas”, escreveu logo no início da audiência o servidor do TRT-2 e diretor do Sintrajud (sindicato de São Paulo) Tarcisio Ferreira.
Mais de 80% dos comentários registrados, na tarde desta segunda-feira (26), são críticos à ‘reforma’ que o presidente Jair Bolsonaro quer aprovar no Congresso Nacional esse ano, em meio ao momento mais grave da pandemia da covid-19 no Brasil. Muitos servidores e servidoras acompanham os debates. “No meio de uma pandemia com servidores da saúde e os pesquisadores salvando o país eles estão demonizando essas pessoas? E retirando direitos delas? E políticos, juízes e ministros fora da reforma”, escreveu Gabriela Mariano. “Parabéns aos servidores da saúde, educação e segurança pública. Não à reforma administrativa”, disse Patrícia Nery.
Participam como convidados da audiência o secretário especial de Desburocratização do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade; o presidente da Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do DF (Anape), Vicente Braga; o advogado e professor Emanuel de Abreu Pessoa; e a coordenadora do movimento Auditoria Cidadã da Dívida, a auditora fiscal aposentada Maria Lúcia Fattorelli. O governo tenta aprovar a PEC 32 na CCJ até o final de maio; a oposição busca obstruir a tramitação e defende que a matéria seja retirada de pauta para que todas as atenções sejam voltadas para o combate à pandemia.
‘Rachadinha’
Por acabar com o concurso público no modelo atual e com a estabilidade, muitos associaram a proposta à tentativa de substituir servidores de carreira por apadrinhados e pessoas subservientes aos governantes. “Teremos só os que aceitarem as rachadinhas”, disse o servidor Salomão Ferreira, que integra a direção do Sintrajud. Foi uma das referências ao escândalo envolvendo um dos filhos do presidente Bolsonaro, Flávio, que é acusado de se apropriar de parte dos salários de quem estava lotado em seu gabinete quando deputado estadual no Rio. “Contra o nepotismo, contra as rachadinhas, contra o loteamento de cargos públicos”, defendeu Renata Nogueira. “No que se transformarão as prefeituras sem concurso público e estabilidade? Balcão de negócios”, afirmou Zeiner Costa de Souza. “Servidor é essencial para o combate à corrupção”, foi assinalado em outro comentário.
A servidora Maria Madalena Nunes ressaltou que os trabalhadores e trabalhadoras do Judiciário e do Legislativo também são atingidos. “Servidorxs do Judiciário e do Legislativo estão sim, na deforma. Quem não está são os privilegiados parlamentares, juízes, militares, promotores e outros. Abaixo a PEC 32 #ForaBolsonaro”, escreveu Madalena, servidora do PJU no Piauí.
Já Marta Almeida Moura lembrou que os que se posicionarem contra os serviços públicos serão cobrados. “Respeitem os servidores públicos. Ano que vem tem eleição e vamos tirar todos que fizerem o desmonte do serviço público!”, avisou.
Para assistir à audiência pública sobre a PEC 32/2020 na CCJ da Câmara: https://youtu.be/QHQ9j4PS_-Y
Hélcio Duarte Filho
Fonte: Sintrajud
Foto: Michel Jesus/Agência Câmara