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No coração do serviço público, quem realmente faz a diferença são as pessoas: Setembro Amarelo e a importância da saúde mental e bem-estar

Há 1 mês


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Em primeiro lugar, se você estiver lendo este texto e estiver passando por momentos difíceis, ou conhece alguém para quem possa falar sobre o serviço, saiba que existe o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio. O atendimento é gratuito e pode ser realizado por telefone (188), chat https://cvv.org.br/chat/ ou e-mail https://cvv.org.br/e-mail/

Em 2024, o lema escolhido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) para a campanha do Setembro Amarelo (ABP) é “Se precisar, peça ajuda!”. Por mais difícil que possa parecer, é possível outra saída!

O Sinjutra, reafirmando um dos seus princípios fundamentais, que é a preocupação com bem-estar, de uma forma geral e ampla e, em especial, dos servidores da Justiça do Trabalho do Paraná, adere à campanha pela valorização da vida. 

Neste Setembro Amarelo, é essencial que valorizemos a complexidade emocional daqueles que se dedicam ao bem-estar da sociedade. No coração do serviço público, quem realmente faz a diferença são as pessoas. Cada servidor carrega não apenas suas obrigações, mas também uma gama de emoções, ansiedades e aspirações.

Refletir sobre a saúde mental é um ato de responsabilidade e empatia. Cuidar de si mesmo é urgente é necessário. Um compromisso individual que se amplia e se torna coletivo, que reflete uma responsabilidade conjunta com a vida e com o bem-estar de todos e de todas. 

A magistrada Anne Helena Fischer Inojosa, desembargadora do TRT da 19ª Região (TRT-AL), publicou, em 2019, uma carta-aberta sobre o Setembro Amarelo. Um depoimento íntimo e comovente pela valorização da vida, e, sobretudo, um alerta para a prevenção.

Abaixo, segue a íntegra.

Setembro Amarelo: um Alerta pela Vida

Estamos no Setembro Amarelo. Um sinal de alerta ao que vem acontecendo no mundo, num quadro que não distingue idade e que decorre da perda da vontade de viver. Desalento, vazio existencial, falta de coragem para enfrentar desafios, frustrações, instabilidades que ocorrem na sociedade e mudanças de paradigma que estão existindo no mundo levam muitos a desistir de viver e a cometer suicídio.

São pessoas que negam à vida a chance de mostrar que esta, apesar de tudo, continua bela, com emoções profundas e agradáveis, que só aqueles que se permitem viver podem apreciá-las e concluir que sim,“A VIDA É BELA”, parafraseando o lindo filme que nos mostrou que, mesmo em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, a esperança resistiu. 

Por que esse tema é tão importante e vem sendo tão divulgado? Muitos pensam ser esse um assunto triste, pesado, deprimente, e por isso não gostam de falar sobre ele. De fato, é um assunto que toca a todos, que nos entristece e faz com que muitos o evitem, dizendo “não quero saber disso agora, tenho outras coisas a fazer, não tenho tempo para um tema tão doloroso”. Entretanto, uma tragédia dessas pode se abater sobre nossas cabeças, sobre nossa casa, e foi isso o que ocorreu na minha: no dia 6 de agosto de 2000, minha filha de 13 anos, Anne, se matou no seu quarto.

O fato é que, na maioria das vezes, não se percebem os sinais que são dados, de que alguém está em dificuldades, sabendo-se, porém, serem diversas as causas que levam pessoas a esse ato, conclusão baseada nas centenas de livros lidos e palestras assistidas nesses últimos anos.

Venho fazer um alerta, na condição de mãe que perdeu uma filha nessas circunstâncias, no sentido de que pode acontecer com qualquer um, e que temos que fazer a nossa parte quando percebermos que alguma coisa está errada com o outro. Olhar com compaixão para o sofrimento e tentar entendê-lo, estando disponível para ouvi-lo a toda hora, sem julgar ou emitir juízo de valor sobre as situações vivenciadas e estando presente com carinho e amor. Mostrando-lhe que talvez seja necessário que ele ou ela procurem ajuda médica, diante da impossibilidade que temos para conduzir uma situação de risco desse tipo, apesar de, muitas vezes, acharmos difícil que alguém venha a chegar a tal ato de desespero.

Para mim, a vida continua sendo bela. Minha filha sabe disso. Aprendi a conversar com ela em um nível não material, e mesmo não a vendo, não a tocando e vice-versa, nos sentimos, trocamos pensamentos, rimos e choramos. Esteja onde estiver, eu a sinto e sempre lhe digo que é uma pena que ela não esteja podendo usufruir das maravilhas deste mundo, as belezas do mar, do nascer do sol, do vento nas árvores, de outros lugares que visito e sei que ela os vê pelos meus olhos. Mas até a gente conseguir viver o luto, chegar às suas profundezas tendo certeza que também vai morrer de dor, mas como uma Phoenix renasce das cinzas, há um longo caminho que exige paciência, resiliência, esperança e fé.

Por isso, para evitar que percamos criaturas que amamos tanto e que as suas idas trarão tão tormentosos sofrimentos, é que precisamos nos voltar e olhar para o suicídio como um problema que vem aumentando. Hoje, no mundo, a cada 40 segundos uma pessoa se mata. Precisamos fazer a nossa parte, olhar para o outro e ajudá-lo dentro das nossas possibilidades.

É o que posso dizer, com base na minha experiência pessoal. Fico muito triste com o que está acontecendo e peço a todos que não desistam de viver, independentemente das circunstâncias que estejam vivenciando, pois são todas finitas. Busquemos a cada dia uma forma de nos tornarmos pessoas melhores, porque nossa estada aqui é importante e a cada dia temos algo a fazer por nós e por aqueles que estão ao nosso lado, sejam familiares ou colegas de trabalho. Muito obrigada pela paciência. Repito: tudo tem jeito. Vamos fazer o nosso melhor, cientes de que somos importantes para todos e não podemos desistir dessa nossa passagem neste mundo que, apesar de problemático, possui uma beleza infinita.